Após 12h de espera, brasileiros não conseguem voltar da África do Sul
Grupo de cerca de 30 passageiros ficou fora de voo fretado da Latam que partiu na madrugada desta quarta (1) com outros 300 brasileiros a bordo
Um grupo de 300 brasileiros que estavam retidos na África do Sul há cerca de uma semana em clima de incerteza devido à pandemia do novo coronavírus conseguiu embarcar para São Paulo nesta quarta-feira (1). O voo decolou de Joanesburgo às 9h55 (horário de Brasília). No entanto, cerca de outros 30 brasileiros permaneceram em território sul-africano mesmo após passarem 12 horas no aeroporto tentando finalmente retornar para casa.
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A espera foi bastante cansativa e incluiu abordagens com uso de cães farejadores, testagem de temperatura, falta de esclarecimento sobre os critérios de embarque e a dúvida sobre onde buscar abrigo caso o plano de volta fracassasse, como aconteceu. Também não havia alimentos, banheiros ou acomodações para aguardar pelo momento de partir.
“A situação é lamentável mesmo. Foram 12 horas de pânico e horror no aeroporto, com muita polícia ostensiva, com gente grosseira e desorganizada”, desabafa Clarissa Menezes, que mora em São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo. Segundo a contadora, famílias foram separadas e houve mulheres grávidas que não conseguiram embarcar.
Após a decepção, Clarissa, o marido e mais um casal de brasileiros voltaram ao local onde estavam hospedados, a casa de uma sul-africana que costuma alugar quartos. A mulher estava muito receosa de recebê-los, já que os quatro passaram a noite expostos a aglomerações no aeroporto. Clarissa conta que o casal encontrou a casa após ter sido expulso de um hotel quando o lockdown foi decretado.
Tallyta Felix dos Santos, de 29 anos, que mora em São Paulo, também conta que passou constrangimento no aeroporto. “Imprimiram até a minha bagagem despachada e depois disseram que dava erro no check-in. Devolveram minha mala quebrada e não me deram nenhuma explicação”, conta.
O voo da Latam com o grupo de brasileiros desembarcou por volta das 15h desta quarta-feira no Aeroporto Internacional de São Paulo, em Cumbica. O cardiologista Acelino Souza Júnior, que mora com a família em Aracaju (SE), estava entre os passageiros e confirmou as horas de angústia vividas antes do embarque e o sofrimento até pisar em solo brasileiro.
“Terrível. Saímos do hotel às 22h. Ficamos no ônibus aguardando liberação da segurança e checkin. Ao descer do ônibus, parecia operação de guerra: fila ainda do lado de fora, cães, muitos policiais. No checkin uma desorganização total, sofrimento mesmo. O voo com serviço mínimo. Um dos comissários respondeu a um comentário de minha esposa sobre a precariedade da alimentação. O cara foi ríspido, falando que estávamos vindo de favor. Disse que o voo era humanitário e ainda falou que se não estivéssemos satisfeitos, que voltássemos”, reportou.
O médico ainda terá de enfrentar um longo caminho de volta para casa. Sem condições de embarcar para a capital sergipana ainda nesta quarta, Acelino e a família terão que passar a noite em um hotel nas redondezas do aeroporto de Cumbica. “Como temos família em Salvador, vamos retornar para lá, mas só amanhã. Não tem mais voos hoje”, completou.
A agonia dos brasileiros retidos na África do Sul dura cerca de uma semana. Começou quando foram anunciados cancelamentos de voos de Joanesburgo com destino ao país. A situação se agravou à meia-noite de sexta-feira (27), quando entrou em vigor o lockdown (bloqueio, em português), o nível mais rígido controle de circulação.
A Embaixada do Brasil na África do Sul afirma que ainda há cerca de 200 brasileiros no país, metade deles na Cidade do Cabo, e que espera que todos os cidadãos que precisam sair do país sejam transportados em voo fretado, ainda sem data definida.
Procurada pela reportagem do R7, a companhia aérea Latam informou que irá apurar a conduta do comissário de bordo que teria ofendido um dos passageiros. A empresa reiterou ainda que repudia veementemente qualquer tipo de ofensa e reforçou que qualquer opinião que contrarie o respeito não reflete os seus valores e princípios.
Com relação aos voos de repatriação, a Latam confirmou o voo Joanesburgo-São Paulo/Guarulhos, nesta quarta-feira, (1), trazendo 313 brasileiros de volta para casa. No momento, não há outro voo especial programado para a rota Joanesburgo-São Paulo/Guarulhos.
Dado o contexto da crise global causada pela covid-19, situação totalmente alheia à vontade da empresa e que consequentemente tem causado transtornos a todos, a Latam segue em contato com as autoridades para avaliar a viabilidade de repatriação de brasileiros, em função das restrições de entrada/saída em diversos países em que opera.