‘Fomos atingidos por um meteoro e vamos combatê-lo’, afirma Guedes
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O ministro da Economia Paulo Guedes afirmou não haver dados, nem na sua pasta, nem no Ministério da Saúde, para sustentar que já chegou o momento de relaxar as medidas de restrições à circulação para combater o coronavírus no país.
Segundo Guedes, é possível manter a quarentena por um tempo, se algumas atividades básicas de de abastecimento de alimentos e produtos médicos estiverem funcionando.
O posicionamento foi reafirmado pelo ministro em dois momentos distintos no final de semana. No sábado (28), durante de videoconferência com representantes da XP Investimentos, e no domingo (29), também por videoconferência, mas desta vez com prefeitos da Confederação Nacional de Municípios (CNM).
“Eu como economista gostaria que nós pudéssemos manter a produção e voltar mais rápido. Eu como cidadão, seguindo o conhecimento do pessoal da saúde, ao contrário, quero ficar em casa e manter o isolamento”, afirmou Guedes aos prefeitos.
A declaração vai no sentido contrário da atitude do presidente Jair Bolsonaro. Na manhã deste domingo, ele saiu da residência oficial, o Palácio da Alvorada, em Brasília, para visitar pontos de comércio local e o Hospital das Forças Armadas (HFA). A passagem de Bolsonaro a diferentes pontos de Brasília causou aglomeração de pessoas, no momento em que a OMS (Organização Mundial da Saúde) recomenda isolamento para evitar o contágio da doença.
Guedes, disse que o período de isolamento como medida de combate à pandemia pode ser mantido por dois ou três meses, mas que depois desse período é preciso liberar as pessoas para o trabalho sob o risco de desmontar o país
“Esse equilíbrio é difícil. Coisa de dois, três meses vai rachar para um lado ou para o outro. Ou funciona o isolamento em dois meses ou vai ter que liberar, porque a economia não pode parar também, senão desmonta o Brasil todo”, disse Guedes.
O ministro reforçou ainda que atividades essenciais mantêm a economia operando num nível adequado para o momento. “A Tereza [Cristina, ministra da Agricultura] e o Tarcísio [de Freitas, dos Transportes) estão fazendo belíssimo trabalho. Se a linha básica de alimentação, suprimento, remédio funcionar, pedir comida em casa”, disse Guedes.
“Se isso pelo menos funcionar, você estica um pouco. Aguenta um ou dois meses. Aguente três meses sem o colapso completo da economia. Passou dos dois meses e meio, três meses, a economia começa a se desorganizar”, afirmou.
No sábado, em videoconferência com representantes da XP, que tem empresários como ouvintes, Guedes reforçou não haver dados para sustentar o fim do isolamento neste momento, como defende alguns empresários, em especial do setor de varejo que querem reabertura das lojas o quanto antes.
“Quando o isolamento é ótimo? Eu não me arrisco em assuntos de saúde. Não é a minha especialidade. Você me perguntou se já há um entendimento entre o Ministério da Economia e da Saúde sobre a questão. Não temos conhecimento de saúde para saber se o isolamento deve ser de duas ou três semanas, se isso quebra a onda, ou dois ou três meses”, disse.
Guedes afirmou ainda que a briga política em torno da questão –gerada após o presidente da República atacar os governadores– mostra que não há um acordo das autoridades sobre a questão.
“Nós sabíamos, estávamos claramente a favor do isolamento no início, ninguém tinha dúvida disso. Num primeiro momento, o isolamento é importante. Agora, se for um isolamento longo demais é uma catástrofe econômica. Se for curto demais, é uma catástrofe de saúde pública.”
O ministro afirmou que o tempo de restrição exigido pelas questões de saúde será, provavelmente, maior que o tempo que as empresas podem aguentar. Pesquisa da XP apresentada ao ministro mostrou que 60% das empresas consultadas disseram que não conseguem ficar paradas por um período de 30 a 60 dias.
“Se precisa de três meses, do ponto de vista de saúde, e do ponto de vista econômico depois de dois meses todo mundo vai abrir o bico. Quer dizer: o fim do lockdown [bloqueio] tem de começar um pouco antes do que a Saúde acha e um pouco depois, talvez, do que a Economia pense”, diz.
Perguntado sobre o risco de ele deixar o governo, Guedes foi enfático. Negou estar demissionário, afirmou não estar doente e disse ter ficado sumido na semana passada por conta do ritmo intenso de reuniões sobre medidas econômicas. “Isso é conversa fiada. Esquece. Conversa fiada total, o presidente tem total confiança no meu trabalho, fomos atingidos por um meteoro, mas vamos combater o meteoro. Não tem esse negócio de sair, como vou deixar o país no momento mais grave.