Leilão de PiPa pode ser o começo da virada para o investimento externo no Brasil, mas nacionais seguem fortes
Agenda de licitações pode destravar valor das concessionárias listadas em Bolsa, caso de Ecorodovias e CCR
SÃO PAULO – Logo nos primeiros dias do ano, ocorreu o leilão da maior concessão rodoviária do Brasil, a Piracicaba-Panorama (PiPa), arrematado por R$ 1,1 bilhão pelo consórcio formado pela gestora Pátria e pelo fundo soberano GIC, de Singapura, com a entrada deste último podendo representar um ponto de inflexão para o investimento estrangeiro no Brasil.
Porém, isso não quer dizer que empresas brasileiras, como CCR (CCRO3) e Ecorodovias (ECOR3), não tenham oportunidades no setor, ainda mais levando em conta a forte agenda de concessões planejada para 2020.
Especificamente sobre o leilão de PiPa, a XP destaca que, apesar do número de participantes ter sido menor que o esperado, os altos investimentos previstos para essa rodovia (R$ 14 bilhões ao longo de 30 anos) de certa forma limitavam o público potencial. Nesse sentido, a derrota da Ecorodovias, que apresentou o lance derrotado de R$ 527,05 milhões, para o consórcio não seria necessariamente ruim.
“Consideramos positiva a participação da Ecorodovias, mostrando que a empresa está ativa na busca por oportunidades de crescimento, mas também racional em termos de alocação de capital”, avalia a equipe de análise.
Não apenas o leilão foi arrematado por um valor muito acima do lance mínimo, que era de R$ 15 milhões, como também foi a primeira vez em que o fundo soberano de Singapura deu lances em um projeto rodoviário no Brasil. A equipe de análise do Credit Suisse, que esteve com representantes do governo de São Paulo essa semana, afirmou que a gestão do governador João Doria vê essa licitação como um ponto de inflexão para o País, que pode atrair mais licitantes com o mesmo perfil nos próximos pregões.
Pendências a resolver
Com o sucesso do leilão, o governo paulista tem novos planos de concessões de rodovias. Eles representam grandes oportunidades para as empresas do setor mas, para saírem do papel, é necessário resolver algumas pendências, apontam os analistas do Credit. Entre elas está a resolução das disputas judiciais em andamento, inclusive com as gigantes CCR e Ecorodovias.
Os analistas do banco suíço contam que as concessionárias recentemente apresentaram seus próprios cálculos sobre as alterações pendentes e agora o governo está fazendo uma diligência detalhada sobre os números, comparando os resultados com seus próprios cálculos.
“Está claro para nós que essa negociação tem um nível alto de complexidade não apenas devido a fatores técnicos como também envolvendo o potencial político e o impacto na opinião pública, com a participação de outras instituições do Estado como o Ministério Público de São Paulo, o Tribunal de Contas do Estado e a [Agência de Transporte do Estado de São Paulo] Artesp”, destacam.
O Credit Suisse aponta que, dentro deste contexto, o governo tem todo o interesse em atingir uma solução em que todos ganhem, permitindo que seja lançada a quinta rodada de licitações de rodovias.
“A ideia é renegociar por grupo, de modo que no caso da CCR seria uma negociação para seus quatro ativos – Renovias, ViaOeste, SPVias e Autoban – ao passo que a Ecorodovias só possui uma concessão em processo de negociação, a da rodovia dos Imigrantes”. A meta do governo é chegar a um acordo com essas empresas ainda no primeiro semestre de 2020.
Na opinião dos analistas, um acordo seria um importante catalisador para destravar valor nas ações dessas empresas. O banco suíço revela ainda esperar que a Ecorodovias seja mais beneficiada que a CCR no caso, uma vez que a empresa está melhor posicionada do que seus pares para atingir um acordo com mais rapidez.
A ação da CCR acumula 11 recomendações de compra entre diversas corretoras, bancos e consultorias, ante oito recomendações neutras e duas de venda. Já o ativo da Ecorodovias soma 13 recomendações de compra, seis neutras e nenhuma de venda.
Outras licitações
Depois do leilão da Pipa, o governo de São Paulo tem mais 20 projetos que pretende conceder para a iniciativa privada. O próximo será o “Rodovias do Litoral”, que envolve de R$ 3 bilhões a R$ 3,5 bilhões em investimentos e deve ser leiloado em junho ou julho. Para o Credit Suisse, esse leilão é mais complexo, pois é um trecho ainda não pedagiado e, portanto, que traz mais incertezas a respeito da demanda.
Além disso, ele traz um mecanismo no qual usuários frequentes recebem descontos tarifários similares aos que serão realizados pela Pipa, e ocorre em ano de eleições municipais, o que costuma aumentar a resistência política para concessões que tragam novos pedágios.
Em seguida, será a vez do leilão das linhas 8 e 9 da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM), que tem investimento esperado de R$ 2 bilhões a R$ 2,5 bilhões. A ideia é leiloar as duas linhas entre setembro e outubro. A concessionária irá operar 80 quilômetros de trilhos e 40 estações. O tráfego diário de passageiros é de 1,2 milhão.
Outro projeto na lista da gestão João Doria, de acordo com o banco suíço, seria uma quinta rodada de estradas que incluiria o re-leilão de quatro ativos maduros: Tebe, Triângulo do Sol, Renovias e ViaOeste. Para acontecer, ele depende do sucesso nas negociações para resolver as pendências judiciais entre o Palácio dos Bandeirantes e as concessionárias.
Em âmbito federal, o governo confirmou recentemente seus leilões planejados para 2020, que incluem 43 ativos distribuídos entre rodovias (7), ferrovias (5), portos (9) e aeroportos (22). Neste cenário, aponta o Bradesco BBI, CCR e Ecorodovias estão bem posicionadas para participar dos certames ao longo deste ano.